Brasil inaugura maior biofábrica de mosquitos com Wolbachia do mundo e fortalece combate a dengue

Brasil inaugura maior biofábrica de mosquitos com Wolbachia do mundo e fortalece combate a dengue
A biofábrica terá capacidade para produzir 100 milhões de ovos de mosquitos por semana (Foto: Divulgação)

Brasil inaugura maior biofábrica de mosquitos com Wolbachia do mundo e fortalece combate a dengue

Um marco histórico no combate às arboviroses no Brasil

No dia 19 de julho de 2025, o Brasil deu um passo decisivo na luta contra doenças como dengue, Zika e chikungunya. Foi inaugurada, em Curitiba (PR), a maior biofábrica do mundo especializada na produção de mosquitos Aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia — uma solução biotecnológica que tem mostrado resultados promissores no controle dessas arboviroses.

A nova unidade, fruto da parceria entre o Ministério da Saúde, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o World Mosquito Program, tem capacidade para produzir até 100 milhões de mosquitos por semana. A estrutura permitirá a expansão dessa tecnologia para todas as regiões do Brasil nos próximos anos, fortalecendo a prevenção de longo prazo e reduzindo a dependência de métodos tradicionais, como fumacê e inseticidas.

Como funciona a Wolbachia

A Wolbachia é uma bactéria naturalmente presente em mais da metade das espécies de insetos do planeta, mas não no Aedes aegypti. Ao ser inserida nesse vetor, ela impede que os vírus da dengue, Zika e chikungunya se desenvolvam dentro do mosquito, bloqueando sua capacidade de transmissão.

O processo consiste na liberação de mosquitos com Wolbachia em áreas urbanas. Ao se reproduzirem com a população local de Aedes aegypti, a bactéria se espalha naturalmente entre as próximas gerações. Com o tempo, a maioria dos mosquitos passa a carregar a Wolbachia e, portanto, perde a capacidade de transmitir as doenças.

A segurança e eficácia desse método foram confirmadas em diversos estudos e cidades brasileiras, consolidando a Wolbachia como uma ferramenta confiável e sustentável no combate às arboviroses.

Resultados comprovados em cidades-piloto

Experimentos realizados em cidades como Niterói (RJ), Campo Grande (MS) e Petrolina (PE) mostraram quedas significativas na incidência de casos de dengue após a aplicação da tecnologia. Em algumas localidades, a redução ultrapassou 70%, segundo dados de monitoramento realizados por pesquisadores da Fiocruz.

Além da eficácia no controle de doenças, as experiências anteriores ajudaram a refinar o processo de liberação dos mosquitos e os protocolos de avaliação de impacto. Essas lições agora serão aplicadas em larga escala, com o apoio da nova biofábrica em Curitiba.

Uma meta ousada: alcançar 140 milhões de brasileiros

Com a produção ampliada, o Ministério da Saúde pretende levar a tecnologia a todos os estados brasileiros até 2030, beneficiando até 140 milhões de pessoas. A prioridade será dada a municípios com alta incidência de arboviroses, surtos recorrentes e capacidade operacional para executar a estratégia de forma segura e eficaz.

A logística de distribuição será organizada com apoio das secretarias estaduais e municipais de saúde. Além disso, agentes comunitários, biólogos e gestores públicos receberão capacitação técnica para garantir o sucesso da implementação em cada localidade.

Sustentabilidade ambiental como aliada

Diferente das soluções convencionais, como o uso de inseticidas químicos, a Wolbachia é considerada uma alternativa de baixo impacto ambiental. Sua aplicação reduz significativamente a necessidade de pulverização, contribuindo para a preservação da biodiversidade e diminuindo a exposição humana a substâncias tóxicas.

A tecnologia é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como parte de uma abordagem integrada e segura para o controle de doenças transmitidas por mosquitos. Além disso, a produção nacional do método fortalece a autonomia científica do Brasil e reduz a dependência de soluções importadas.

Curitiba como centro de biotecnologia

A escolha de Curitiba para abrigar a nova biofábrica foi estratégica. A cidade conta com infraestrutura moderna, forte presença de centros de pesquisa e tradição em inovação na área da saúde pública.

A instalação da unidade amplia o protagonismo da capital paranaense na biotecnologia e abre portas para novos projetos voltados ao desenvolvimento sustentável. A fábrica integra o Complexo Industrial de Biotecnologia da Fiocruz e será responsável por abastecer o país com milhões de mosquitos por semana, de forma automatizada e eficiente.

Engajamento da população é peça-chave

A introdução da Wolbachia em uma comunidade exige mais do que tecnologia: requer confiança da população. Por isso, toda a operação de liberação dos mosquitos será acompanhada de campanhas de conscientização, rodas de conversa com moradores e ações educativas em escolas e unidades de saúde.

Essas ações têm como objetivo explicar como a tecnologia funciona, esclarecer dúvidas e combater desinformações. O engajamento popular tem sido essencial para o sucesso da estratégia em todas as cidades onde foi aplicada até hoje.

Brasil como referência internacional

A estratégia brasileira de combate às arboviroses com o uso de Wolbachia tem sido observada com atenção por organizações internacionais. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a OMS acompanham de perto a iniciativa e consideram o modelo brasileiro como referência para outros países da América Latina e do mundo.

A inauguração da biofábrica em Curitiba reforça a posição do Brasil como líder global em soluções sustentáveis para a saúde pública, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e mostrando que é possível enfrentar desafios históricos com ciência, tecnologia e participação social.

Um novo capítulo na saúde pública brasileira

Durante a inauguração oficial, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, destacou a importância de investir em soluções baseadas em evidências. Segundo ele, o país inaugura um novo ciclo de combate à dengue, mais estratégico, duradouro e sustentável.

A produção nacional em larga escala dos mosquitos com Wolbachia representa mais do que uma inovação científica: é uma promessa de alívio para milhões de brasileiros que convivem com o medo constante de doenças transmitidas por mosquitos.

Esse novo capítulo da saúde pública brasileira mostra que, com planejamento e compromisso coletivo, é possível transformar a realidade de comunidades inteiras. A tecnologia, aliada à informação e ao engajamento social, abre caminho para um futuro mais seguro e saudável.

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