Conhecer sua anatomia é estar um passo à frente na prevenção

Conhecer sua anatomia é estar um passo à frente na prevenção
Sabrina de Souza Alves - Médica Ginecologista

Ginecologista explica quais fatores de risco podem prejudicar a prevenção do câncer de mama

Com 38 anos de idade e vastos anos de experiência como ginecologista, Sabrina de Souza Alves divide suas horas de trabalho entre um consultório particular no Espaço Pró – Saúde e suas funções como Capitão da Força Aérea Brasileira. Formada em medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora e com a residência concluída pelo Hospital das Clínicas da UFMG, Dra Sabrina explica a importância de um diagnóstico precoce quando o assunto é câncer de mama.

Fatores de risco que não podemos mudar

“Quando a gente fala dos fatores de risco, a gente tem a oportunidade de cuidar melhor da nossa saúde”

Desconhecido de muitos, existem fatores de risco que podem ser evitáveis, ou seja, com atenção e cuidado, um diagnóstico pode ser evitado. Não se pode deixar de falar daquilo que, infelizmente, não pode ser evitado. Dentre esses que nós não conseguimos mudar temos: a idade acima de 50 anos, aquela mulher que tem uma história familiar positiva de câncer de mama ou ovário, aquela que tem mutações na família.

 As mais conhecidas são as mutações nos genes  BRCA1 e BRCA2. Esses genes são supressores de tumor. Isso significa que eles produzem proteínas responsáveis por reparar danos no DNA das células. Quando o DNA é danificado (por exemplo, por radiação, toxinas ou erros naturais da divisão celular), essas impedem o surgimento do câncer ao manter o DNA íntegro e as células sob controle.

Quando ocorre uma mutação hereditária em um desses genes, as proteínas produzidas ficam defeituosas ou inativas. O reparo do DNA não acontece corretamente, o dano se acumula, as mutações aumentam e o risco de o câncer surgir cresce bastante.

Se alguém na família teve câncer, isso já aumenta as chances de ter câncer de mama?

Doutora Sabrina responde:

“O principal fator de risco relacionado ao histórico familiar é a presença de casos de câncer de mama ou de ovário entre parentes próximos. Embora algumas pessoas acreditem que qualquer tipo de câncer na família já aumente o risco, essa associação não é direta.

Há síndromes genéticas específicas que podem relacionar tumores diferentes, como os de intestino e mama, mas essas situações são menos comuns. De modo geral, o risco é maior em mulheres com parentes de primeiro grau como mãe, irmã ou filha  que tiveram câncer de mama ou de ovário.”

Fatores de risco evitáveis:  hábitos que ajudam na prevenção

“Falando dos fatores que podem ser evitados, destacam-se o sedentarismo, a alimentação rica em gordura e pobre em vegetais, a falta de atividades físicas e o consumo excessivo de álcool.”

Esses fatores de estilo de vida estão diretamente ligados ao aumento do risco de câncer de mama e de outros tipos de câncer. O sedentarismo, por exemplo, é apontado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como responsável por uma elevação de 20% a 30% no risco da doença. A prática regular de exercícios, cerca de 150 minutos por semana de atividade moderada, ajuda a equilibrar os níveis hormonais, especialmente o estrogênio e a insulina, que influenciam o desenvolvimento de tumores mamários.

Da mesma forma, uma alimentação rica em gorduras saturadas e pobre em vegetais contribui para processos inflamatórios e o ganho de peso, ambos relacionados à maior incidência de câncer. Já uma dieta equilibrada, com frutas, legumes, verduras e fibras, pode reduzir o risco em até 15%, segundo estudos internacionais.

O consumo excessivo de álcool também merece atenção. O álcool aumenta os níveis de estrogênio e pode causar danos diretos ao DNA das células mamárias. Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) indicam que o risco cresce cerca de 10% a cada dose diária de bebida alcoólica. Mesmo o consumo considerado “moderado”, como uma taça de vinho por dia, já está associado a um pequeno aumento no risco.

Essas evidências reforçam que manter hábitos saudáveis como praticar atividades físicas, ter uma alimentação equilibrada e evitar o consumo de álcool, é uma das formas mais eficazes de reduzir o risco de câncer de mama e melhorar a saúde de modo geral.

Autoexame: uma arma para a detecção precoce

“Aquela paciente que conhece a anatomia da própria mama, ela vai ter uma facilidade muito maior para conseguir perceber uma lesão, às vezes antes do próprio ginecologista.”

É importante, que mensalmente, após a menstruação, as mulheres procurem palpar as mamas para conhecer sua anatomia, se familiarizar com seu o formato e textura, e assim, conseguir identificar quando surgir alguma anomalia. A idade ideal para iniciar esse autocuidado é a partir da adolescência ou início da vida adulta. Deve-se observar alterações como nódulos, retrações da pele, secreções ou vermelhidão e comunicar qualquer mudança ao médico imediatamente.

Mamografia: essencial para detectar alterações precoces

“Um exame consagrado quando falamos de rastreamento do câncer de mama. Ela consegue detectar as lesões na fase pré-clínica.”

A mamografia é um exame fundamental porque consegue identificar microcalcificações, pequenos depósitos de cálcio no tecido mamário que ainda não se formaram como nódulos palpáveis. Essas alterações podem indicar o surgimento de lesões iniciais, algumas delas benignas e outras com potencial de se tornarem cancerosas.

Detectar essas alterações precocemente é essencial, pois permite:

  • Iniciar o tratamento antes que o câncer se desenvolva de forma mais agressiva;

  • Reduzir a necessidade de tratamentos invasivos, como grandes cirurgias ou quimioterapia intensiva;

  • Aumentar significativamente as chances de cura.

Frequência recomendada da mamografia:

  • Mulheres com risco médio: geralmente a cada 2 anos, entre 50 e 69 anos.

  • Mulheres com alto risco (histórico familiar de câncer de mama ou mutações genéticas, como BRCA1/2): o rastreamento pode começar mais cedo, muitas vezes aos 30 anos, podendo incluir mamografia e ressonância magnética.

Ultrassom e ressonância: aliados na avaliação das mamas

Hoje, além da mamografia, contamos com o ultrassom das mamas e a ressonância magnética como aliados na detecção do câncer.

Ultrassom das mamas:

  • Ideal para identificar nódulos sólidos ou cistos, principalmente em mulheres com mamas densas.

  • Não é eficaz para detectar microcalcificações, que podem indicar lesões iniciais.

Ressonância magnética (RM):

  • Mais sensível para localizar lesões ocultas ou múltiplas, especialmente em mulheres com alto risco.
Esses exames ajudam a complementar a avaliação clínica, dando uma visão mais detalhada da estrutura das mamas e auxiliando no acompanhamento de casos de risco elevado.

A força do apoio: enfrentando o câncer de mama juntos

Muitas mulheres sentem medo, especialmente aquelas com histórico familiar de câncer, preocupadas em “encontrar algo que não querem ver”. Esse receio é normal, mas é importante lembrar que diagnosticar o câncer de mama precocemente pode ser decisivo, permitindo tratamentos eficazes com altas chances de cura.

Por isso, é fundamental quebrar o paradigma de que procurar o médico significa achar algo ruim. Consultas, exames e até o autoexame são formas de cuidar da saúde e aumentar as chances de sucesso no tratamento.

Além disso, o apoio de familiares, amigos ou profissionais é essencial. Receber um diagnóstico nunca é fácil, e ter uma rede de apoio ajuda a enfrentar o momento com mais segurança e confiança.

Outubro Rosa: prevenção da saúde da mulher como um todo

“Vamos nos conscientizar, cuidar do nosso corpo. O fator emocional contribui para tudo na nossa vida. Estar com a saúde mental em dia é necessário, ainda mais quando o assunto é alguma doença. Precisamos aproveitar o hoje para tomarmos medidas para termos uma boa saúde no futuro.  Eu acho que o Outubro Rosa é muito mais do que só a prevenção do câncer de mama. É a prevenção da saúde da mulher.” Encerra a Doutora Sabrina.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Lagoa News

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Eyshila Gonçalves - lagoa news

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