A decisão de Washington acirra a crise diplomática com o governo de Gustavo Petro e aumenta a pressão militar contra grupos ligados ao narcotráfico na América Latina.
Os Estados Unidos retiraram oficialmente a Colômbia da lista de países que cooperam de forma plena no combate ao narcotráfico, em um movimento que reacende tensões históricas entre Washington e Bogotá. A decisão, anunciada pelo presidente Donald Trump, marca a primeira vez desde 1997 que a Colômbia é classificada como “falhando” em suas obrigações na guerra contra as drogas.
Segundo a determinação enviada ao Congresso norte-americano, a produção de cocaína no território colombiano alcançou níveis recordes nos últimos anos. Embora reconheça a atuação das forças de segurança do país, Washington responsabiliza diretamente a liderança política de Gustavo Petro pelo avanço do cultivo de coca e pelas negociações de paz com grupos armados que financiam suas atividades com o tráfico.
Reação dura de Petro
Em resposta, o presidente colombiano criticou a medida e anunciou que seu governo deixará de adquirir armamentos dos Estados Unidos. Petro classificou a decisão como “política” e acusou Washington de transformar a luta antidrogas em pretexto para intervenções militares.
“Chega de dependência. O Exército colombiano deve fabricar ou comprar suas armas com recursos próprios, para não se tornar refém de esmolas externas”, declarou o presidente em reunião transmitida pela televisão.
Petro também acusou os EUA de cometerem “assassinatos” após ataques militares contra embarcações venezuelanas em águas internacionais do Caribe. Segundo Trump, as ações tinham como alvo “narcoterroristas” ligados ao tráfico, mas deixaram mortos ao menos 14 tripulantes em dois episódios distintos.
Venezuela no centro da disputa
A crise não envolve apenas a Colômbia. A Venezuela foi apontada por Washington como um dos principais corredores de drogas da região e também aparece na lista de países que falharam em cooperar com o combate ao narcotráfico.
Os recentes ataques militares contra barcos venezuelanos foram duramente criticados por Petro, que acusou os EUA de “matar latino-americanos em seu próprio território”. Já o governo Trump afirma ter provas de que as embarcações pertenciam a redes criminosas, embora ainda não tenha divulgado evidências públicas.
Um cenário de guerra prolongada
A Colômbia continua sendo o maior produtor mundial de cocaína. Relatórios das Nações Unidas apontam que, em 2024, o país bateu recordes históricos de produção, agravando a instabilidade interna marcada pela violência de grupos armados.
Apesar das apreensões recordes de cocaína nos últimos dois anos, o governo Petro enfrenta dificuldades em reduzir o cultivo da coca, que cresceu cerca de 10% em 2023. Para o presidente colombiano, o problema só poderá ser enfrentado com a redução da demanda por cocaína nos Estados Unidos e na Europa.
Enquanto isso, Washington reforça sua estratégia de confrontar diretamente o que chama de “narcoterrorismo”, ampliando a pressão militar na região e colocando a guerra às drogas novamente no centro da política externa norte-americana.