O Lagoa News esteve no bairro Recanto da Lagoa conversando com moradores sobre algumas reclamações antigas de descaso envolvendo a Prefeitura de Lagoa Santa, a Copasa e os próprios cidadãos. Entre as denúncias feitas pelos moradores estão o alto movimento de carros em avenida mal sinalizada, a falta de revitalização do asfalto prejudicado pelo alto fluxo de caminhões, mau cheiro provocado pela rede de esgoto da Copasa e até descarte de carne podre atraindo grupos de urubus para a região.
Além das denúncias, os moradores também chamaram a atenção para a possibilidade de que todas essas questões piorem com o desenvolvimento da região caso não seja feito um estudo sobre a distribuição dos fluxos de veículos, enquanto grandes empreendimentos que estão sendo construídos podem, no futuro, afetar ainda mais a vida dos residentes. Lagoa Santa tem recebido grandes investimentos externos e precisa acompanhar para manter a qualidade de vida dos moradores.
Avenida com alto fluxo e odor desagradável na porta das residências.
A Av. José de Abreu Primo é uma via localizada no bairro Recanto da Lagoa que tem sofrido com o alto fluxo de carros durante todo o dia, principalmente no horário de “pico”. De acordo com os residentes, o que tem acontecido é que, desde as novas obras de ligações feitas pela Prefeitura nos últimos anos, a via recebeu mais carros por conta da saída que proporciona para quem faz a jornada de trabalho entre Belo Horizonte e Lagoa Santa. O trajeto permite uma segunda saída para a Grande BH além da mais utilizada pela Av. Acadêmico Nilo Figueiredo.
Em conversa com alguns moradores, nos foram apontados os riscos e os incidentes recentes envolvendo a avenida com pouca sianlização, principalmente no trecho que culmina na esquina entre a Rua Geralda de Oliveira Lara e a Av. José de Abreu primo.
Wagner Luiz Pacheco, um morador do bairro desde 2008, também nos disse que por várias vezes a Copasa abriu o asfalto do trecho para tentar solucionar um problema relacionado à rede de coleta de esgoto da região, mas pouco depois o mau cheiro retorna como se nada tivesse sido feito.
“Você sabe quantas vezes ela (Copasa) já abriu esse pedaço aqui? Foi incontáveis o número de vezes que elas abrem, fecham, passa um tempo, vem aquela água preta correndo, um mau cheiro, rapaz”, afirmou Wagner. Os moradores também salientam que a comunicação com a Copasa é difícil e muitas vezes termina sem solução.
Acidente de carro danifica muro de moradora.
Não é só o mau cheiro e o alto fluxo de veículos que têm perturbado os moradores da região, uma soma de fatores envolvendo a falta de sinalização relatada por eles e a quantidade de carros no trecho residencial promoveu um acidente que danificou fortemente o muro de uma das moradoras e colocou em risco a sua própria vida.
Mylenne Aldry, moradora da casa de esquina que já sofre com o mau cheiro, teve seu muro atravessado em um acidente envolvendo dois carros, em que um deles não parou. A rua que o carro avançou não possuía sinalização de “pare”. “Ele achou que dava para atravessar a rua Geralda, que não tem pare, nunca teve, se você for olhar todas as ruas que estão de encontro com a avenida, não tem sinalização”, disse a moradora apontando para o chão onde devia ter o “pare”, segundo ela.
Nesse contexto, a moradora aproveita para nos explicar que já fez vários pedidos para a Prefeitura, para que seja feito um estudo para melhorar a sinalização e para colocar um “quebra-mola” que diminuísse a velocidade dos carros. Enquanto o Lagoa News realizava a apuração do caso, realmente vimos um fluxo intenso de carros em velocidade desproporcional para uma região residencial, além de ultrapassagens feitas em um pequeno espaço, já que, apesar da via ser considerada uma avenida, o espaço é relativamente menor do que em uma via projetada para ter um grande fluxo de veículos.
“Os carros não respeitam, embora tenha um quebra-mola lá (disse, apontando para o final do trecho)” e continuou “inclusive existe uma divergência entre nós de onde poderia colocar o segundo quebra-mola, que já foi pedido e já foi negado umas três vezes, inclusive o último, também foi negado porque foi dito que não poderia colocar outro porque está muito próximo (do outro “quebra-mola” já existente)”, afirmou Myllene.
Incêndio criminoso e descarte de lixo irregular.
Outro problema frequentemente relatado pelos moradores são incêndios criminosos que se repetem em um lote vazio próximo de onde conversávamos. Em uma rua que termina na Av. José de Abreu Primo, e que não aparece no mapa, os moradores alegam que um suspeito se aproveita da falta de fiscalização na região para fazer despejo de lixo.
E em alguns casos até mesmo carne podre é descartada para que em seguida o suspeito ateie fogo, causando incêndios que tomam proporções perigosas próximo às casas. “Vão lá ver a quantidade de lixo que está lá (se referindo à rua próxima de onde a gente estava), ele vem com a carrocinha, joga ali atrás, mete o fogo e some, é sempre assim, o fogo espalha”, afirmou Wagner.
O descarte irregular de lixo coloca em risco sanitário a saúde dos moradores, além de atrair grupos de urubus que podem transmitir doenças. “Eu tive um outro problema agora, ele enchia, enchia a carroça de carne podre, de açougue lá do Joá, ou outros bairros daqui (da região), que o pessoal paga, e vem aqui para poder descarregar o lixo dos outros (carne podre e lixo comum), como se diz, ele ganha o dele, ele olha que não tem câmera, vai lá e mete fogo”, disse Wagner.
Wagner disse ao Lagoa News que a prefeitura faz a limpeza da rua, mas que frequentemente encontra os vestígios das queimadas criminosas provocadas pelo suspeito e que a ausência de pontos verdes, que antes existiam e foram retirados segundo ele, piorou a situação. No dia da entrevista com os moradores, o Lagoa News fez imagens dos restos de lixo queimado descartado na rua em questão. “A prefeitura veio aqui, essa semana limpou, pois vocês vão lá e veem a quantidade de lixo que está lá agora”, afirmou.
Também deu exemplo de Belo Horizonte, que possui uma política pública que poderia solucionar ao menos o problema que envolve podas de jardinagem, que também são queimadas no lote vago localizado no trecho. “Agora, outra coisa, acabaram com os pontos verdes, acabou, vivo falando, em Belo Horizonte tem um projeto que chama URPV, que é local que você mesmo põe no seu carro, vai lá e descarta”, disse Wagner.
As Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPVs) são pontos públicos destinados a aceitar entulho, poda e terra, até o limite diário de 1m³ por viagem, assim como pneus, colchões e móveis velhos. O programa oferece à população a possibilidade de entregar esses materiais volumosos não tóxicos gratuitamente nas URPVs, que não recebem lixo doméstico e de sacolão, resíduos industriais ou de serviços de saúde nem animais mortos. Para a situação do lixo comum que também é descartado ali, seria preciso fiscalização, de acordo com moradores.
Vestígios dos roubos de fios nas ruas.
Segundo os moradores, a falta de fiscalização na região traz criminosos oportunistas para furtar a fiação elétrica dos postes, durante a madrugada, provocando picos de luz cotidianamente. Durante a apuração desta matéria, encontramos vestígios deixados pelos criminosos durante os furtos, como restos das capas de fios e fiação inutilizável. Além de “barrigas”, como é conhecida popularmente a presença de irregularidades na fiação que deixa fios mais baixos do que o apropriado entre os postes.
De acordo com os moradores, o contato com a Cemig é ruim e muitas vezes têm eletrodomésticos queimados por conta dos picos de luz.
O futuro do bairro e da cidade.
Lagoa Santa é uma cidade em constante desenvolvimento, que nos últimos anos tem aumentado sua população e a quantidade de investimentos externos na cidade. Entre esses investimentos, a construção do shopping próximo da cidade juntamente com um edifício da empresa estadunidense World Trade Center promete atrair ainda mais pessoas para a região e gerar empregos para os habitantes.
No entanto, denúncias como a que constitui esta matéria são vistas pelos moradores como um atraso no desenvolvimento da cidade que precisa acompanhar os seus investimentos e ao mesmo tempo resguardar a qualidade de vida da sua população. O Lagoa News entrou em conato com a Prefeitura que até a publicação desta matéria não havia respondido nenhuma das alegações.
Assim que tivermos atualizações sobre o caso traremos para a nossa audiência. Dessa forma, como deixamos o espaço aberto para denuncias também reservamos o direito de resposta da Prefeitura e assim que ela nos responder divulgaremos em nossas mídias.
