O que começa com a busca por alívio para uma dor abdominal se transforma em um angustiante percurso de mais de um ano, marcado por diagnósticos equivocados, seis intervenções cirúrgicas e graves infecções. Este é o relato de Tiago Santos Duarte, um paciente que se sente defraudado pelo sistema de saúde de Lagoa Santa. Sua jornada na Santa Casa local revela não apenas uma série de supostas falhas médicas, mas também acusações de descaso, preconceito e uma grave quebra de ética profissional.
Diagnósticos errados e primeira cirurgia
Defraudado. É assim que Tiago Santos Duarte se sente após meses de dores, cirurgias e descaso na Santa Casa de Lagoa Santa. Seu caso é marcado por diagnósticos errados, complicações cirúrgicas e cobranças irregulares dentro do próprio hospital, além da dor, presente até os dias atuais.
A história de Tiago começou em 2023, quando ele procurou a Santa Casa após fortes dores abdominais. Ao chegar, foi diagnosticado com gastroenterite, mas não ficou convencido. Ao buscar uma segunda opinião particular, descobriu que tinha uma hérnia inguinal, que, em termos simples, é como se houvesse um “buraco” ou ponto fraco no músculo, permitindo que algo de dentro do abdômen empurre para fora, formando uma “bolinha” ou inchaço na virilha.
De volta à Santa Casa, Tiago passou pela primeira cirurgia em 13 de janeiro de 2023. Segundo os médicos, tudo ocorreu bem, mas as dores não cessaram.
Novas hérnias e complicações cirúrgicas

No retorno, Tiago descobriu uma hérnia umbilical e passou por nova cirurgia em 25 de maio de 2023. Pouco tempo depois, recebeu um novo diagnóstico: uma hérnia recidivada encarcerada, quando uma hérnia previamente operada retorna e fica impossibilitada de voltar para o abdômen, causando fortes dores e inchaço. Essa situação levou Tiago à terceira cirurgia em 5 de julho de 2023.
Menos de três semanas depois, em 21 de julho de 2023, uma nova abordagem cirúrgica foi necessária. Tiago precisou retornar ao hospital em 28 de julho, esperando mais de quatro horas para ser atendido. O que recebeu foram apenas analgésicos, mesmo diante da saída visível de pus e sangue do local da cirurgia.
Inconformado, Tiago realizou uma ultrassonografia particular, que revelou uma infecção e uma coleção de pus misturado com sangue no abdômen. No dia seguinte, 29 de julho de 2023, ele voltou à Santa Casa e foi levado novamente ao centro cirúrgico. Durante o procedimento, foi colocada uma tela de polipropileno, que acabou causando outra infecção, exigindo sua remoção cirúrgica.
Seis cirurgias e dor persistente
Após seis intervenções cirúrgicas, a dor de Tiago persistia. Em 23 de setembro de 2025, ele precisou passar por mais uma cirurgia de hérnia umbilical, ficando afastado de suas atividades por 60 dias.
Após um ano de complicações e diagnósticos recorrentes de gastroenterite, a confiança de Tiago na Santa Casa ficou totalmente abalada. Ele buscou ajuda no Hospital São Francisco, em Belo Horizonte, onde foi operado em 15 de março de 2024, recebendo a informação de que a Santa Casa deveria ter reparado o erro desde o início. Mesmo assim, a dor continuava. Em 19 de novembro de 2024, passou por uma cirurgia por vídeo, sem alcançar sucesso definitivo.
Desrespeito e preconceito
Além do desconforto físico, Tiago relatou ao Jornal Lagoa News ter sofrido momentos de desrespeito e preconceito no hospital. Ele contou que profissionais da saúde o chamavam de “menino da hérnia”, um apelido cruel diante de todo o incômodo que vivia.
Tiago também denunciou que, em 28 de julho de 2023, ouviu de um médico do SUS que “a Santa Casa não resolveria o problema dele, mas, por R$ 4.000, ele poderia ser operado de forma particular”.
Problemas persistentes e falta de atendimento
Após a hérnia, novos problemas de saúde surgiram. Em 2025, ao buscar atendimento no Hospital Lindouro Avelar, em Lagoa Santa, Tiago recebeu apenas respostas dizendo que deveria aguardar em casa e esperar a UBS de referência. Duas ultrassonografias foram feitas em instituição particular, mas o retorno recebido indicava que uma nova cirurgia só ocorreria caso o quadro se agravasse.
Em 27 de agosto de 2025, uma veia da varicocele estourou. Na Santa Casa, afirmaram que era apenas um vaso e que a cirurgia deveria ser aguardada em casa.
Durante toda a conversa com o Jornal Lagoa News, ficou evidente a inconformidade de Tiago:
“Se um médico do SUS, dentro de um consultório, teve a coragem de me oferecer algo em particular, o que não pode estar acontecendo com as pessoas que não sabem ler?”
Ele acrescentou:
“Quando eu disse que procuraria a reportagem, me pediram para abafar o caso. Estou aqui para falar por mim e por todos que se calam.”
Secretária de Saúde Ainda Não Responde
Procuramos a Secretaria de Saúde em busca de respostas, mas, até a publicação desta matéria, não obtivemos retorno. A questão permanece em aberto.