Homens deixam construção civil: setor busca mulheres e jovens

Homens deixam construção civil: setor busca mulheres e jovens

A construção civil brasileira enfrenta uma transformação significativa: o abandono crescente de trabalhadores homens tradicionalmente empregados no setor. Esta mudança está forçando empresas e entidades do ramo a repensar suas estratégias de recrutamento, voltando-se para públicos antes negligenciados.

Com a idade média dos trabalhadores da construção girando em torno de 41 anos e uma predominância masculina histórica, o setor se vê diante de um desafio duplo: lidar com o envelhecimento da força de trabalho e a dificuldade crescente de atrair novos profissionais para substituir aqueles que estão saindo.

A resposta das empresas tem sido clara: ampliar o recrutamento de mulheres e jovens, oferecendo salários atrativos que podem chegar a R$ 12 mil mensais para funções especializadas e investindo pesadamente em programas de qualificação profissional.

O cenário atual da mão de obra na construção civil

A força de trabalho da construção civil brasileira apresenta características que explicam os desafios atuais do setor. Com idade média de aproximadamente 41 anos, o contingente de trabalhadores está envelhecendo rapidamente, criando uma lacuna geracional preocupante.

A predominância masculina sempre foi uma marca do setor, mas agora se tornou um problema. A dependência excessiva deste perfil específico de trabalhador limitou a capacidade de renovação do quadro de funcionários, especialmente quando outros setores da economia começaram a oferecer melhores condições de trabalho e maior estabilidade.

Alta informalidade prejudica a atração de talentos

Um dos maiores obstáculos para atrair novos trabalhadores é a alta taxa de informalidade que caracteriza o setor. Dados recentes mostram que apenas 25,5% dos ocupados na construção possuíam carteira assinada em 2023, enquanto a informalidade somava 67% quando considerados trabalhadores por conta própria informal e assalariados sem carteira.

Esta realidade significa que a maioria dos profissionais não tem acesso a direitos básicos como férias remuneradas, 13º salário ou contribuição previdenciária. A instabilidade de renda, com muitos recebendo por hora ou semana, afasta potenciais candidatos que buscam segurança financeira.

A busca por novos perfis profissionais

Mulheres: um mercado em expansão

Embora ainda represente uma parcela pequena do total, a participação feminina na construção civil formal tem crescido. No Brasil, 9,2% dos empregos formais do setor são ocupados por mulheres, percentual que sobe para 12,4% em São Paulo.

O SindusCon-SP tem intensificado parcerias para qualificar mulheres e inseri-las em frentes de trabalho, associando essa iniciativa à modernização dos canteiros e ganhos de produtividade. A estratégia inclui:

  • Programas de capacitação específicos para o público feminino
  • Modernização dos processos para tornar o ambiente menos hostil
  • Foco em funções que exigem mais técnica e menos força física
  • Criação de trilhas de progressão profissional

Jovens: renovação necessária

A atração de jovens profissionais representa outro desafio significativo. Muitos preferem atuar como microempreendedores individuais (MEI) em vez de aceitar contratos com carteira assinada, o que tem levado entidades do setor a repensar modelos tradicionais de contratação.

Estratégias para atrair jovens incluem:

  • Parcerias com o Sebrae para capacitação empresarial
  • Programas de aprendizagem e estágio
  • Modernização da imagem do setor através de tecnologia
  • Oferta de salários competitivos para funções especializadas

Salários e oportunidades de crescimento

Remuneração por níveis de qualificação

O setor tem oferecido uma ampla faixa salarial, dependendo do nível de especialização:

Funções básicas: Seguem pisos regionais definidos por negociações coletivas, com reajuste de 6% para salários até R$ 7.818,84 em São Paulo a partir de maio de 2025.

Funções especializadas: Carpinteiros especializados, montadores de formas e pedreiros de acabamento podem alcançar R$ 10 mil a R$ 12 mil em períodos de escassez desses perfis.

Cargos de supervisão: Mestres de obras apresentam medianas salariais próximas de R$ 9 mil em São Paulo, com amplitude entre R$ 6 mil e R$ 21 mil, dependendo da experiência e porte da empresa.

Crescimento do emprego formal

Apesar dos desafios, o emprego formal na construção civil tem mostrado crescimento, ultrapassando a marca de 3 milhões de vínculos formais em 2025, segundo dados do Novo Caged consolidados pelas entidades setoriais.

Este crescimento, porém, ainda não resolve o problema da alta informalidade que caracteriza o setor como um todo.

Estratégias de modernização e atração

Modernização dos canteiros

Construtoras e entidades têm investido na modernização dos canteiros como forma de atrair novos perfis profissionais. As mudanças incluem:

  • Processos mais industrializados
  • Melhoria na gestão de qualidade e segurança
  • Redução da percepção de trabalho exclusivamente braçal
  • Implementação de novas tecnologias

Programas de qualificação

A aposta em formação técnica tem sido uma estratégia central:

  • Cursos específicos para diferentes funções
  • Programas de certificação profissional
  • Parcerias com instituições de ensino técnico
  • Trilhas de progressão de carreira bem definidas

Desafios e perspectivas futuras

Obstáculos a serem superados

Vários fatores ainda dificultam a transformação completa do setor:

  • Cultura organizacional tradicionalmente masculina
  • Resistência à mudança de alguns segmentos
  • Falta de infraestrutura adequada para mulheres em muitos canteiros
  • Instabilidade econômica que afeta investimentos em qualificação

Oportunidades de crescimento

Por outro lado, tendências positivas apontam para mudanças sustentáveis:

  • Crescimento da demanda por habitação
  • Investimentos em infraestrutura
  • Programas governamentais de habitação social
  • Maior conscientização sobre diversidade no trabalho

Impactos econômicos e sociais

A transformação do perfil da mão de obra na construção civil tem implicações que vão além do setor. A inclusão de mulheres e jovens pode:

  • Reduzir o desemprego em grupos tradicionalmente excluídos
  • Aumentar a renda familiar através da inclusão feminina
  • Melhorar a qualidade dos serviços com maior diversidade de perspectivas
  • Modernizar práticas através do conhecimento tecnológico dos jovens

O futuro da construção civil brasileira

A questão que permanece é se o setor conseguirá transformar os investimentos em capacitação e modernização em contratações mais estáveis e carreiras verdadeiramente atraentes para os novos perfis que busca atrair.

O sucesso desta transformação dependerá da capacidade das empresas de oferecer não apenas salários competitivos, mas também:

  • Ambiente de trabalho inclusivo e seguro
  • Oportunidades reais de crescimento profissional
  • Estabilidade contratual através da formalização
  • Reconhecimento profissional e valorização do trabalho técnico

A construção civil brasileira está em um momento de inflexão. As empresas que conseguirem se adaptar rapidamente a esta nova realidade, investindo genuinamente em diversidade e modernização, estarão melhor posicionadas para enfrentar os desafios futuros e aproveitar as oportunidades de um mercado em transformação.

A mudança já começou, mas seu sucesso dependerá da consistência e do comprometimento real de todos os atores envolvidos em fazer da construção civil um setor verdadeiramente inclusivo e atrativo para a nova geração de trabalhadores brasileiros.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Lagoa News

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