Grandes marcas como Levi’s e Louis Vuitton já adotam modelos gerados por computador, levantando um debate crucial sobre o futuro dos empregos no setor e os novos padrões de estética e diversidade.
A indústria da moda, conhecida por sua constante vanguarda, está diante de uma de suas transformações mais profundas. A chegada de modelos criados por Inteligência Artificial (IA) deixou de ser uma aposta futurista e tornou-se uma realidade nas campanhas de gigantes do mercado.
Essa inovação, ao mesmo tempo que oferece novas possibilidades, acende um alerta sobre o futuro de profissionais da área e os rumos da criatividade e representatividade no setor.
A nova fronteira digital na moda
Marcas de renome já estão explorando o potencial dos avatares digitais. A Levi’s, por exemplo, firmou parceria com a startup holandesa Lalaland.ai para criar modelos virtuais e ampliar a diversidade em seus catálogos online de forma mais ágil e acessível.
A intenção, segundo a empresa, é complementar os modelos humanos, e não substituí-los, permitindo que os consumidores vejam as roupas em uma variedade maior de corpos, tons de pele e idades.
Outros nomes de peso, como a Louis Vuitton, já flertam com essa realidade há mais tempo, utilizando personagens de games e avatares em suas campanhas. O fenômeno ganhou força entre 2020 e 2023, com o surgimento de “influenciadores virtuais” que colaboraram com marcas como Prada, Givenchy e Calvin Klein, demonstrando a viabilidade e o apelo dessa nova abordagem.
O dilema da inovação: oportunidades e riscos
A adoção da IA na criação de modelos oferece um leque de vantagens para as empresas, mas também impõe desafios éticos e profissionais significativos. A tecnologia permite a pequenas empresas e jovens designers, que antes não tinham orçamento para grandes produções, elevar a qualidade de seu material de divulgação com custos reduzidos.
No entanto, a ascensão dos modelos de IA gera uma série de preocupações:
- Impacto Profissional: A substituição de modelos humanos é a ponta do iceberg. Fotógrafos, estilistas, maquiadores e outros profissionais da cadeia produtiva podem ver seu trabalho precarizado ou substituído por soluções de IA.
- Homogeneização da Estética: Existe o risco de que a IA, alimentada por vieses existentes em seus dados de treinamento, acabe gerando imagens que reforcem um padrão de beleza hegemônico, em vez de promover a diversidade autêntica.
- Perda da Intenção Artística: Especialistas apontam que a substituição do trabalho criativo humano por algoritmos pode levar a uma perda da alma e da intenção artística que sempre caracterizaram as grandes marcas de moda.
O futuro do fator humano
Para muitos, a questão central não é a tecnologia em si, mas como ela será utilizada. A ferramenta pode tanto democratizar o acesso a produções de alta qualidade quanto precarizar o trabalho humano.
A preocupação é que a busca incessante por redução de custos leve à substituição de profissionais experientes por soluções de IA mais baratas, resultando em uma possível perda de originalidade e profundidade nas campanhas.
A transição para um modelo híbrido, onde a tecnologia de IA atua como uma ferramenta para expandir e viabilizar o trabalho humano, parece ser o caminho mais promissor. Contudo, a indústria da moda se encontra em uma encruzilhada, precisando equilibrar os benefícios inegáveis da inovação com a responsabilidade de proteger seu capital humano e a autenticidade que a define.
O desenrolar dessa história definirá não apenas a aparência das futuras campanhas, mas a própria essência do que significa criar moda.
