Durante visita oficial a Moçambique, o presidente destacou que a exportação de serviços de engenharia e obras é essencial para o crescimento econômico do Brasil e para a geração de empregos qualificados em território nacional.
Em um movimento estratégico para reposicionar o Brasil como um ator central no comércio global, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu enfaticamente, nesta segunda-feira (24), a retomada do financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a internacionalização de empresas brasileiras. A declaração ocorreu durante sua visita a Moçambique, na África, onde participou das celebrações pelos 50 anos de independência do país e reuniu-se com o presidente moçambicano, Daniel Chapo.
O discurso marca uma tentativa clara do governo federal de superar as controvérsias da última década e reativar um modelo de fomento econômico que visa exportar “inteligência e serviços”, e não apenas commodities minerais ou agrícolas.
Exportar serviços para gerar riqueza interna
O ponto central da argumentação do presidente reside na mecânica econômica da exportação de serviços. Lula reforçou que, para o Brasil deixar de ser apenas um fornecedor de matéria-prima e passar a vender produtos e projetos de alto valor agregado, é indispensável o apoio estatal via crédito.
“Nenhum grande país consegue exportar serviços sem oferecer apoio de crédito”, afirmou Lula, traçando um paralelo com nações desenvolvidas e com a China, que utilizam seus bancos de fomento para garantir que suas empresas conquistem mercados internacionais.
A lógica defendida pelo governo é técnica:
- Como funciona: O BNDES não envia dinheiro para o governo estrangeiro. O banco paga, em reais, a empresa brasileira que realizará a obra ou serviço no exterior.
- O pagamento: O país contratante (neste caso, Moçambique ou outros parceiros) assume a dívida com o BNDES, pagando o empréstimo com juros, geralmente em moeda forte (dólar ou euro).
- O resultado: Isso estimula a cadeia produtiva dentro do Brasil, gerando demanda por máquinas, insumos e mão de obra especializada brasileira, enquanto traz divisas estrangeiras para o país no longo prazo.
Foco na África e infraestrutura
A escolha de Moçambique como palco para este anúncio não foi aleatória. O governo brasileiro enxerga o continente africano como um parceiro prioritário, tanto por laços históricos quanto pelo potencial de mercado em expansão.
Durante o encontro, foram sinalizadas áreas críticas onde a expertise brasileira é demandada:
- Infraestrutura: Construção de portos, estradas e linhas de transmissão de energia, setores onde as empreiteiras brasileiras possuem reconhecimento técnico internacional.
- Energia: Lula sugeriu que a Petrobras poderia auxiliar Moçambique na exploração e produção de gás natural. Segundo o presidente, o país africano possui as reservas, mas o Brasil detém a tecnologia e o conhecimento técnico necessários para extraí-las.
- Agricultura: Acordos de cooperação envolvendo a Embrapa também foram discutidos para modernizar a produção agrícola local.
Superando o “trauma” recente
Em sua fala, Lula reconheceu o hiato nas relações comerciais e diplomáticas ocorrido nos últimos anos, referindo-se ao período como um momento em que o Brasil “se perdeu por caminhos sombrios”. A paralisação dos financiamentos à exportação de serviços ocorreu, em grande parte, devido aos desdobramentos de investigações passadas, que criaram um estigma sobre as operações do BNDES no exterior.
No entanto, o governo atual sustenta que os mecanismos de controle e compliance do banco foram aprimorados e que abandonar esse mercado significa entregar oportunidades de negócios para concorrentes internacionais, prejudicando a indústria nacional.
A retomada proposta visa “recobrar a consciência” da vocação internacional do Brasil, transformando a diplomacia presidencial em resultados comerciais práticos. A expectativa é que, com garantias robustas e critérios técnicos rigorosos, o BNDES possa voltar a operar como uma alavanca para que a engenharia e a indústria brasileira disputem obras de grande porte no cenário global.













