Meu Pai, Meu Influencer: A verdadeira influência que fica fora das telas

Meu Pai, Meu Influencer: A verdadeira influência que fica fora das telas

Em uma era de curtidas e compartilhamentos, o Dia dos Pais convida a uma reflexão sobre o que realmente significa ser um pai influente. A resposta, muitas vezes, está nos momentos que as câmeras não capturam.

A cena é familiar para quem navega pelas redes sociais: um pai sorridente, com iluminação perfeita, compartilha um vídeo de uma receita em família que parece ter saído de um programa de TV. A legenda fala em “memórias afetivas” e os comentários explodem em elogios. Em outro canto da realidade, longe dos algoritmos, um pai passa a madrugada em claro, medindo a febre do filho.

Outro, com paciência infinita, segura o selim da bicicleta pela décima vez após mais um tombo. E há aquele que apenas senta em silêncio ao lado do filho adolescente, oferecendo um ombro amigo sem exigir uma única palavra. Qual dessas cenas, de fato, molda o caráter, a segurança e o futuro de uma pessoa?

A ascensão e a pressão dos “Pais Influencers”

A ascensão e a pressão dos Pais Influencers

É inegável o impacto positivo que a crescente presença de pais nas redes sociais trouxe. Perfis dedicados à paternidade ajudaram a quebrar o velho estereótipo do pai distante e provedor, incentivando uma participação masculina mais ativa, sensível e presente na criação dos filhos. Esses espaços criaram comunidades de apoio, onde homens trocam experiências, dicas e celebram as alegrias da vida em família.

Contudo, essa exposição contínua também gerou uma nova forma de pressão. A busca pela “paternidade perfeita” — sempre paciente, criativa e “instagramável” — pode gerar ansiedade e um sentimento de inadequação em pais que enfrentam os desafios reais e nem sempre fotogênicos do dia a dia. A linha entre compartilhar e performar torna-se tênue, e a monetização da vida familiar levanta questões sobre autenticidade e o bem-estar das crianças.

Especialistas em comportamento digital alertam que a comparação é uma armadilha. A vida editada para as redes sociais raramente mostra as noites mal dormidas, as discussões sobre limites ou a exaustão mental de conciliar trabalho e paternidade.

Paternidade sem filtro: O que as câmeras não mostram

A verdadeira essência da paternidade se revela quando o celular está no bolso. É nas conversas difíceis, nos sacrifícios silenciosos e na presença constante que o legado de um pai é construído. São histórias que não rendem engajamento, mas que edificam vidas.

Conversando com pais de diferentes realidades, as experiências que mais os marcaram raramente seriam um post viral:

  • O desafio de explicar ao filho sobre uma perda na família.
  • O sentimento de culpa por perder um evento escolar por causa do trabalho.
  • A luta silenciosa contra a própria ansiedade para ser um porto seguro para os filhos.
  • A alegria genuína ao ver um filho superar uma dificuldade que parecia intransponível.

Esses momentos, desprovidos de filtros e edições, são o alicerce da influência real. Eles ensinam sobre resiliência, empatia, vulnerabilidade e amor incondicional.

A influência que permanece: O legado real

Quando se pergunta a filhos, jovens ou adultos, qual a lição mais valiosa que aprenderam com seus pais, as respostas raramente mencionam bens materiais ou eventos espetaculares. A verdadeira herança é imaterial. Fala-se do exemplo de honestidade, do valor do trabalho duro, da segurança de saber que havia alguém com quem contar, não importa o erro.

A influência duradoura está no caráter que foi moldado pelo exemplo, nos valores que foram transmitidos nas pequenas atitudes cotidianas e no apoio silencioso que deu coragem para arriscar e voar.

Neste Dia dos Pais, a maior homenagem talvez seja celebrar a paternidade autêntica. A influência de um pai não se mede em seguidores, mas no impacto positivo e permanente que ele deixa no coração e na vida de um filho. A conexão mais poderosa não precisa de wi-fi, apenas de presença.

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