João Pedro, de 4 anos, teve o dedo mindinho amputado após acidente com climatizador sem proteção na Escola Municipal Dona Aramita. Família luta por tratamento e apoio negados pela prefeitura, enquanto caso segue parado na Polícia Civil.
No dia 30 de outubro de 2024, João Pedro, uma criança autista de 4 anos, teve o dedo mindinho amputado dentro da Escola Municipal Dona Aramita, em Lagoa Santa, após um acidente com um climatizador sem proteção adequada. Além da gravidade do ferimento, a família denuncia negligência da escola e da prefeitura, que não ofereceram o suporte necessário nem custearam o tratamento especializado da criança, deixando o caso parado na Polícia Civil.
O acidente em sala de aula
Lesão ocorrida em escola em Lagoa Santa deixa criança com dedo amputado. Foto: Divulgação
No dia do acidente, João Pedro, uma criança de 4 anos, estava na Escola Municipal Dona Aramita, em Lagoa Santa, quando um acidente mudou sua vida para sempre. Um climatizador, instalado em uma altura acessível para as crianças e sem as devidas proteções, causou a amputação do dedo mindinho de João. O equipamento, que deveria garantir segurança, acabou se tornando uma armadilha fatal para o pequeno.
Inicialmente, os pais acreditavam se tratar apenas de um corte, mas a gravidade do ferimento se revelou no hospital, onde a criança passou por uma cirurgia complexa. Além do dedo amputado, o nervo do dedo anelar sofreu danos severos, exigindo intervenção médica delicada. Apesar dos esforços, a demora no atendimento ao dedo mindinho impediu sua reimplantação.
Falta de acompanhamento especializado
Pedro Henrique e Roberta, pais de João Pedro, autista não verbal, souberam que a criança não teve nenhuma reação durante o ocorrido. Foi informado aos pais que, no momento do acidente, apenas a professora e a auxiliar de turma estavam em sala, quando, por laudo, era garantido a João a presença constante de uma monitora para auxiliá-lo em tudo que fosse necessário. Por fotos, os pais puderam ver a extensão do acidente na vida do filho.
“No nosso primeiro contato com ele, a mãozinha estava enfaixada, posteriormente tivemos acesso às fotos. Ela viu, eu não quis ver, não consegui. É uma situação que, sinceramente, mata qualquer pai e mãe”, disse Pedro Henrique em entrevista ao jornal Lagoa News.
Desamparo no tratamento de saúde
O que mais impressiona os pais em toda essa história, além do próprio acidente da criança, é a falta de apoio que a família teve para custear todo o tratamento que ele precisou. Após a cirurgia, a médica responsável disse que João precisaria de uma fisioterapia específica, que o município não teria para oferecer. Mesmo assim, os pais de João pegaram todos os laudos e encaminhamentos e foram à UBS mais próxima de sua residência, onde receberam descaso como resposta. Por meio de muito esforço, com o pai, que é autônomo, deixando de trabalhar por vários dias e contando com a ajuda de amigos e familiares, João seguiu em sua fisioterapia, totalmente custeada pela família.
O impacto emocional e financeiro
“Eu trabalho fixo, mas recebo apenas uma vez no mês. Todos os custos diários foram arcados pelo meu marido. Como ele trabalhava por diárias, cada falta significava menos dinheiro para entrar em casa. Foi muito difícil. Hoje, com a alta, ele não vai mais precisar faltar ao serviço, mas e o que já passou? E todo o aperto que vivemos?” contou Roberta, mãe de João.
Entrevista com os pais de João. Foto: Gabriel/ Jornal Lagoa News
A adaptação foi algo doloroso para a família.
“No início, foi a adaptação. O primeiro passo era avaliar e ver como ele reagiria a tudo que aconteceu. A primeira vez que tiramos o curativo, por não saber falar, ele contava os dedos. Ele sabe dizer os números e, ao contar os dedos do pai, falou “10”. Depois, ao contar os seus próprios dedos, falou “9”. Ele entendia que faltava um, por isso para gente machuca muito.” continuou Roberta.
Instituições se calam diante da tragédia
A família ainda alega que no meio desse vendaval que enfrentam, ninguém se prontificou ou estendeu as mãos. A professora até tentou manter contato, foi até a casa de Roberta e Pedro, mas a “preocupação” não se estendeu e o caso de João foi mantido pela escola, pela prefeitura e pela secretaria de educação da cidade de Lagoa Santa como apenas mais um em lista incontável.
Preconceito e falhas graves no processo
Em conversa com a advogada Carla Adriana de Carvalho, representante de Roberta e Pedro Henrique no caso do pequeno João, ela relatou à nossa equipe que, devido às condições do equipamento, o acidente poderia ter acontecido com qualquer criança, mas foi dito a eles que o acidente só aconteceu porque João Pedro é uma criança atípica.
Busca por justiça e reparação
Roberta e Pedro, pais do João. Foto: Gabriel/ Jornal Lagoa News
“Eles estão investigando um crime que aconteceu contra uma criança de 4 anos. Acho que eles poderiam aproveitar o espaço de vocês, que é aberto, para poder se explicar e não mandar apenas notas prontas. Eu só quero uma fala verdadeira das pessoas que estão a par da situação.” disse Pedro Henrique.
“O senhor procurador do município teve a ousadia de recorrer, pois a juíza tinha dado causa para a gente, dizendo: ‘imagina se todos que machucassem na prefeitura pedissem indenização, a prefeitura ia quebrar’. É mínimo, gente, é saúde. É saúde do menino. Não estamos pedindo dinheiro. Queremos apenas que eles paguem o tratamento de saúde do João Pedro. Eles negam a responsabilidade deles.” completou Pedro Henrique.
Investigação paralisada e incertezas
O caso segue parado na Polícia Civil, que aguarda uma investigação interna da prefeitura para dar continuidade à apuração. O Jornal Lagoa News entrou em contato com a secretaria de saúde do município de Lagoa Santa e, até o fim desta matéria, não responderam nossas perguntas sobre o caso do João Pedro, mas garantiram um retorno em breve. Uma audiência de conciliação foi agendada e aguardamos o futuro desse caso, o futuro de uma família que teve sua estrutura abalada e de uma criança que infelizmente jamais viverá seus dias da mesma forma.
Direitos das crianças atípicas na escola
No Brasil, crianças com deficiência ou transtornos do neurodesenvolvimento, como o autismo, têm direitos garantidos para assegurar sua inclusão e proteção no ambiente escolar.
A Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) assegura o acesso à educação em igualdade de condições e proíbe cobranças adicionais por causa da deficiência. As escolas devem oferecer apoio individualizado, como cuidadores ou monitores, sempre que necessário.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB – Lei nº 9.394/1996) prevê o Atendimento Educacional Especializado (AEE), que deve ser gratuito e oferecido preferencialmente na própria escola regular, com recursos adaptados e acompanhamento individual.
Além disso, a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Lei nº 12.764/2012) garante o direito a um acompanhante individualizado para estudantes autistas.
A Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) reforçam o direito de acesso à educação com igualdade, garantindo prioridade e proteção integral.
A falta de monitores, a negligência institucional e o ambiente escolar inseguro podem configurar violação desses direitos, dando margem a ações judiciais por danos materiais e morais.
Eyshila Rebeca Silva Gonçalves, uma jovem de 25 anos, esposa e mãe de quatro meninas, é uma escritora em formação com uma profunda dedicação à política, feminilidade e à língua portuguesa.