A política agora também acontece no digital e isso pode mudar a maneira como enxergamos os candidatos.
As redes sociais já fazem parte do cotidiano do cidadão comum há algum tempo. Usamos essas plataformas para nos comunicar, nos informar e até para compartilhar gostos e preferências pessoais. No entanto, um movimento diferente vem ganhando espaço nas mídias desde a eleição de Trump em 2016 e, depois dele, Bolsonaro em 2018: o uso das redes como espaço para campanha política.
A presença das redes sociais no cotidiano
De acordo com pesquisa da Comscore, o Brasil é o terceiro país do mundo que mais consome redes sociais. Na pesquisa “Tendências de Social Media 2023”, afirma-se que mais de 130 milhões de brasileiros têm passado cada vez mais tempo no digital. O setor soma 356 bilhões de minutos, o que equivale a 46 horas de conexão por usuário por mês. É como se o usuário passasse quase dois dias inteiros olhando para uma tela de, em média, 5,6 polegadas.
Quando as redes ganharam espaço para campanha política?
Durante a eleição de Obama, dispositivos conectados à internet foram utilizados para arrecadar fundos e mobilizar eleitores. Depois, durante a Primavera Árabe — uma onda de revoltas e manifestações civis no Oriente Médio — houve uma mobilização virtual que auxiliou em mudanças políticas em diversos países. Mais recentemente, durante as eleições do presidente Trump, tanto em 2016 quanto em 2024, e do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2018, houve uma estratégia bem organizada para o uso das redes como ferramenta política.
Mobilização digital

O uso das redes para mobilização política não é isolado, muito menos improvisado. Faz parte de um processo de reestruturação do marketing político, que antes era feito somente na TV aberta ou nas ruas e disseminado por meios de comunicação de massa. Agora, com a descentralização da mídia tradicional para o digital — principalmente as redes sociais — as campanhas políticas também mudaram de lugar.
Grupos em aplicativos de conversa, páginas em redes sociais voltadas para conteúdos a favor de candidatos ou partidos específicos, moldados para mobilizar eleitores, tornaram-se algo recorrente. Essas páginas foram cruciais para a eleição de Trump em 2016: “Acho que não estaria aqui se não tivesse as mídias sociais”, declarou em entrevista para a CBS News logo após ser eleito pela primeira vez.
A retórica usada nas redes muda tudo
Com uma retórica atrativa aos conservadores, direcionada principalmente por discursos moralistas e antissistema, Bolsonaro conseguiu furar as bolhas digitais e dominar a eleição que o elegeu como 38º Presidente do Brasil. Durante a campanha eleitoral de 2018, também foi possível observar uma mudança na maneira de alcançar os eleitores. O uso de influenciadores digitais foi crucial diante da queda do uso do horário eleitoral na televisão e das campanhas nas ruas.
O que muda para o eleitor comum?
As redes sociais se tornaram um segundo ambiente para fazer campanha política. Enquanto antes era possível parar de assistir a um debate ou mesmo desligar a TV em horário eleitoral, agora é mais difícil se desconectar das redes durante o período da campanha. A nova era do marketing político objetiva maximizar o uso das redes para arrecadar fundos eleitorais em forma de doações dos próprios eleitores, além do objetivo principal: o seu voto. O eleitor comum agora terá de lidar com um número maior de informações sobre os candidatos em quem pretende votar.
As bolhas informacionais podem ser um problema
As redes sociais se baseiam no conceito dos algoritmos, que são conjuntos de regras que determinam quais conteúdos são exibidos para cada usuário e em que ordem. O problema é que muitos pesquisadores alertam para o perigo da formação das chamadas bolhas digitais na ausência de algoritmos.
Em reportagem da BBC News, Maurício Moura, pesquisador da Universidade George Washington, nos Estados Unidos, e fundador da Ideia Big Data, explicou como a ausência de um algoritmo no WhatsApp, que cria bolhas informacionais a partir das preferências do usuário, pode elevar a credibilidade mesmo das notícias falsas, porque “as mensagens vêm do círculo de pessoas mais próximas”.
Vazamento de dados e o possível favorecimento de Trump
Durante as eleições de 2016, a equipe que cuidava da campanha de Trump contratou uma empresa especializada na análise e coleta de dados. O que aconteceu depois da eleição ficou marcado como o escândalo da Cambridge Analytica.
Segundo a acusação, a Cambridge Analytica teria comprado acesso a informações pessoais de usuários do Facebook e usado esses dados para criar um sistema que permitiu prever e induzir as escolhas dos eleitores nas urnas, conforme investigação dos jornais The Guardian e The New York Times. A partir dos dados comprados, sem autorização dos usuários, a empresa teria sido capaz de catalogar perfis e então direcionar matérias pró-Trump e mensagens contrárias à sua adversária política, Hillary Clinton.
É importante estar atento
Os cidadãos com idade para votar são colocados em uma posição de alerta ao reconhecer o perigo das bolhas digitais, os novos ambientes de campanha política e o poder colocado nas mãos dos marketeiros políticos com a mudança do horário eleitoral, que hoje pode ser feito nas redes sem regulação e sem limite de horário.