Um estudo divulgado pela Fundação João Pinheiro (FJP) trouxe projeções importantes sobre o futuro demográfico de Minas Gerais até 2047. De acordo com a análise, o estado deve atingir seu pico populacional em 2037, com cerca de 21,9 milhões de habitantes, mas passará por uma leve redução a partir de então, chegando a 21,7 milhões de pessoas em 2047. A tendência aponta para um processo de envelhecimento gradual da população, o que deve influenciar diretamente no planejamento de políticas públicas nos próximos anos.
As estimativas foram elaboradas com base nos dados do Censo 2022 do IBGE, e a partir deles, a FJP desenvolveu projeções detalhadas para os 853 municípios mineiros e para as 13 Regiões Geográficas Intermediárias (RGInt) do estado. O estudo completo está disponível no documento “Projeções populacionais: Minas Gerais e Regiões Geográficas Intermediárias 2027-2047”, que também conta com uma base de dados segmentada por município, sexo e faixas etárias, além de um painel interativo para facilitar a consulta.
Segundo a pesquisadora Denise Maia, que integra a equipe responsável pelo levantamento, a diminuição do número de nascimentos e o aumento da expectativa de vida são fatores que consolidam essa mudança. “Estamos assistindo a uma transição demográfica que segue o padrão de envelhecimento observado em várias regiões do mundo. Ainda que existam variações entre as regiões mineiras, todas caminham para um cenário de população mais envelhecida”, afirma.
Regiões já começam a sentir a queda
Algumas regiões de Minas Gerais começarão a sentir os efeitos dessa mudança mais cedo. Entre 2032 e 2037, as regiões de Barbacena, Juiz de Fora e Pouso Alegre devem iniciar o declínio populacional. Outras, como Patos de Minas, Teófilo Otoni, Uberaba e Uberlândia, só devem apresentar queda no número de habitantes no final da janela de projeção, por volta de 2047.
Na contramão dessa tendência, a região de Montes Claros aparece como exceção, com expectativa de crescimento constante ao longo de todo o período analisado. Essa estabilidade pode estar ligada a fatores como estrutura econômica regional, migração interna e taxas de fecundidade mais elevadas do que a média estadual.
Cidades médias em destaque
Entre os municípios que devem apresentar maior crescimento populacional até 2047, a maioria pertence à região metropolitana de Belo Horizonte e possui entre 20 mil e 120 mil habitantes. Nove das dez cidades com maior projeção de aumento populacional são de porte médio, e o único município fora desse perfil é Nova Lima, já consolidada como cidade polo.

Na lista estão: Esmeraldas, Sarzedo, Juatuba, Mateus Leme, Igarapé, São José da Lapa, Conceição do Mato Dentro, Lagoa Santa e Nova Lima. Esse movimento pode indicar uma expansão urbana para além do centro da capital, com parte da população buscando regiões próximas com melhor qualidade de vida e acesso a serviços.
Planejamento é essencial
Além de antecipar transformações demográficas, o levantamento da FJP oferece suporte técnico para a formulação de estratégias públicas mais eficazes, já que o envelhecimento populacional traz novos desafios para os governos locais e estaduais.
Entre as áreas que devem ser impactadas estão saúde, educação, habitação, transporte público e saneamento básico. Com menos pessoas em idade economicamente ativa, haverá pressão sobre a Previdência e sobre os sistemas de assistência social, além de maior demanda por serviços voltados à terceira idade.
“Será fundamental repensar o desenvolvimento regional com foco em soluções de médio e longo prazo. As políticas públicas precisam ser pensadas para o agora, mas também com um olhar voltado para o que virá nas próximas décadas”, ressalta Denise Maia.
Ela reforça ainda que diagnósticos econômicos locais serão fundamentais para identificar setores estratégicos, capazes de manter a sustentabilidade econômica mesmo em contextos de baixa natalidade e aumento da longevidade. O planejamento urbano e a valorização de vocações regionais também aparecem como caminhos importantes nesse cenário.
Um panorama em transformação
A transformação demográfica não é um fenômeno isolado em Minas Gerais. O Brasil como um todo já mostra sinais claros de desaceleração do crescimento populacional, e em diversas regiões o envelhecimento é realidade há anos. O que torna o estudo da FJP relevante é a granularidade das informações, que permite análises detalhadas para cada município e região, respeitando suas características próprias e ritmos distintos de mudança.
A disponibilização pública dos dados, aliada ao painel interativo da FJP, oferece ferramentas importantes para gestores públicos, urbanistas, economistas e estudiosos da área social. A tendência é que esse tipo de material seja cada vez mais utilizado para embasar decisões estratégicas em nível local, como alocação de recursos, definição de prioridades e criação de programas sociais e econômicos.
A importância de pensar o futuro
Se por um lado a redução no número de habitantes pode parecer, à primeira vista, um alívio em termos de pressão urbana, ela traz consigo o desafio de sustentar o desenvolvimento com uma base populacional mais envelhecida e, muitas vezes, menos produtiva. Isso exige não só uma redefinição de prioridades governamentais, mas também uma mudança cultural e social quanto ao papel da população idosa na sociedade.
Para cidades como Lagoa Santa, que figura entre as que devem apresentar crescimento populacional até 2047, esse planejamento ganha uma dimensão ainda mais estratégica. A cidade, localizada próxima à capital mineira, reúne condições geográficas, ambientais e econômicas que a tornam atraente tanto para novos moradores quanto para investidores. Portanto, os gestores locais precisam estar atentos às projeções e preparados para conciliar crescimento populacional com qualidade de vida e infraestrutura adequada.
O futuro de Minas Gerais já começou a ser desenhado nos gráficos da Fundação João Pinheiro — agora cabe às lideranças políticas, empresariais e sociais traçarem os caminhos para garantir que esse futuro seja sustentável, justo e equilibrado para todos os mineiros.