O recente aumento das tarifas comerciais promovido pelos Estados Unidos, conhecido popularmente como “tarifaço”, está provocando um efeito dominó nas economias de todo o mundo, segundo análises recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Com tarifas em níveis recordes que não se viam há um século, o impacto dessas medidas ultrapassa as fronteiras americanas, afetando o crescimento econômico global, elevando a inflação e gerando um ambiente de incerteza que dificulta investimentos e o comércio internacional.
Redução nas Projeções de Crescimento Global
Em seu relatório Perspectiva Econômica Global, divulgado em abril de 2025, o FMI revisou para baixo suas previsões de crescimento mundial, reduzindo a expectativa para 2025 de 3,3% para 2,8%, e para 2026 de 3,3% para 3%. Essa revisão reflete diretamente o impacto das tarifas norte-americanas e a escalada das tensões comerciais, que criam um cenário de volatilidade e incerteza para investidores e governos.
O economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, destacou que o sistema econômico global, que vinha operando de forma relativamente estável nas últimas oito décadas, está passando por uma redefinição profunda.
A rápida escalada das tensões comerciais e a imprevisibilidade das políticas tarifárias americanas estão afetando todas as regiões do planeta, com crescimento mais lento nos Estados Unidos, na zona do euro, na China e em outras economias importantes.
Impactos Diretos nas Economias Norte-Americana e Vizinhas
Estados Unidos: Crescimento e Inflação em Queda e Alta, Respectivamente
Os Estados Unidos, epicentro do tarifaço, tiveram sua previsão de crescimento para 2025 reduzida de 2,7% para 1,8%, com a inflação projetada para atingir 3% no mesmo ano, um ponto percentual acima da estimativa anterior. Essa elevação da inflação exige uma postura vigilante do Federal Reserve para manter as expectativas de preços sob controle, evitando que a alta inflacionária se torne persistente.
Canadá e México: Revisões Negativas e Retração Econômica
Além dos EUA, Canadá e México, que mantêm relações comerciais estreitas com os americanos, também sofreram revisões negativas. O Canadá teve sua projeção de crescimento para 2025 reduzida de 2% para 1,4%, enquanto o México enfrenta uma retração econômica de 0,3% em 2025, uma queda significativa em relação à previsão anterior de crescimento de 1,4%.
O México é o país mais afetado entre as principais economias, dada sua alta dependência do comércio com os EUA.
Desaceleração na Europa e na Ásia
Europa: Zona do Euro e Alemanha em Risco, Espanha em Destaque
Na Europa, a zona do euro deve desacelerar seu crescimento para 0,8% em 2025, com destaque para a Alemanha, cuja previsão foi cortada para estagnação econômica. A Espanha, por outro lado, apresenta um desempenho atípico, com previsão de crescimento de 2,5%, impulsionada por um consumo mais robusto e medidas fiscais favoráveis.
China: Crescimento Reduzido e Medidas Fiscais Mitigadoras
A China, segunda maior economia mundial e altamente dependente das exportações, também sentiu o impacto do tarifaço. O FMI reduziu sua previsão de crescimento para 4% em 2025 e 2026, abaixo das estimativas anteriores de 4,6% e 4,5%, respectivamente. Embora medidas fiscais tenham ajudado a mitigar parte do efeito negativo, a incerteza comercial continua sendo um fator limitante para o crescimento chinês.
Consequências para o Comércio Global e a Estabilidade Financeira
O FMI alerta que o aumento das tarifas e a imprevisibilidade das políticas comerciais americanas elevam os custos do comércio internacional, tornando-o menos eficiente e mais fragmentado. A previsão para o crescimento do comércio global foi reduzida para 1,7% em 2025, metade do ritmo observado em 2024.
Essa fragmentação e o aumento da incerteza dificultam decisões de investimento e planejamento empresarial, além de aumentar a volatilidade nos mercados financeiros. O FMI destaca que, caso as tensões comerciais se agravem, o impacto poderá ser ainda mais severo, com riscos elevados de instabilidade financeira global e danos ao sistema monetário internacional.
A Importância da Previsibilidade e da Cooperação Internacional
Para restaurar a confiança e estimular o crescimento, o FMI enfatiza a necessidade de restaurar a previsibilidade e a clareza no sistema comercial global. A cooperação entre países e a busca por acordos que tragam estabilidade às políticas tarifárias são cruciais para evitar uma escalada de conflitos que possa comprometer ainda mais a economia mundial.
O cenário atual exige que os formuladores de políticas adotem medidas que promovam a estabilidade econômica e financeira, preservando a independência dos bancos centrais e garantindo que a inflação seja mantida sob controle, sem sacrificar o crescimento.
Perspectivas para o Brasil e Outras Economias Emergentes
Embora o Brasil tenha sido pouco citado no relatório do FMI, a expectativa é de um crescimento moderado de 2% para 2025, uma leve redução em relação a 2024. A economia brasileira, com seu mercado interno robusto e menor exposição direta às tarifas americanas, deve sofrer impactos menos severos em comparação a outras nações.
No entanto, o ambiente global de incerteza e a desaceleração do comércio podem afetar indiretamente o Brasil e outras economias emergentes, especialmente aquelas dependentes de exportações e investimentos externos.
Reflexões Finais
O tarifaço dos Estados Unidos representa um desafio significativo para a economia global, com efeitos que vão além das fronteiras americanas. A redução nas projeções de crescimento, o aumento da inflação e a instabilidade nos mercados financeiros indicam que o mundo está diante de um período de ajustes e redefinições nas relações comerciais.
A superação desse momento depende da capacidade dos países de dialogar e buscar soluções multilaterais que promovam a estabilidade e o crescimento sustentável. A imprevisibilidade e a escalada das tensões comerciais são riscos que podem comprometer a recuperação econômica global e afetar o bem-estar das populações em todo o planeta.
