BBC revela rede de aliciamento de jovens africanas
O brilho dos arranha-céus de Dubai contrasta com uma realidade sombria. Uma investigação do BBC Eye Investigations revelou a atuação de Charles Mwesigwa, apontado como líder de uma rede de tráfico internacional de mulheres. Jovens ugandenses eram atraídas com promessas de trabalho em hotéis e supermercados, mas acabavam presas em um ciclo de exploração sexual, ameaças e dívidas forjadas.
Muitas vítimas relataram abusos degradantes com clientes estrangeiros. Algumas morreram em circunstâncias suspeitas, como Monic Karungi e Kayla Birungi, que caíram de prédios em Dubai. Autoridades trataram os casos como suicídio, mas familiares acreditam que elas foram silenciadas pela rede criminosa.
Tráfico de mulheres em Dubai: um crime transnacional
O caso de Dubai não é isolado. Em 2024, o BBC Africa Eye revelou como mulheres malauianas foram traficadas para Omã. Recrutadas com falsas ofertas de emprego, elas eram forçadas a trabalhar em condições análogas à escravidão no sistema de kafala, que impede trabalhadoras migrantes de deixarem o país sem autorização do empregador.
Segundo a ONG Do Bold, praticamente todas as trabalhadoras domésticas em Omã são vítimas de tráfico humano e exploração laboral, sujeitas a abusos físicos, sexuais e cárcere privado.
Exploração sexual: mulheres são as principais vítimas
Um estudo conduzido em 2022 pela Clínica de Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas da UFMG, em parceria com o CNJ, analisou 144 processos judiciais envolvendo tráfico de pessoas no Brasil.
Os dados revelaram que:
- 96,36% das vítimas do tráfico internacional de pessoas são mulheres.
- A principal finalidade é a exploração sexual.
- A Espanha é o principal destino de brasileiras traficadas, seguida por Portugal e Itália.
Esses números confirmam que o tráfico de mulheres é um fenômeno global, que atravessa fronteiras e se alimenta da vulnerabilidade social.
Do sonho ao pesadelo
Especialistas afirmam que o desemprego e a pobreza aumentam a vulnerabilidade de jovens mulheres em países africanos e latino-americanos. A promessa de estabilidade financeira no exterior muitas vezes se transforma em um ciclo de abusos e violência.
Como resume um familiar de uma das vítimas à BBC:
“Estamos olhando para a morte de Monica. Mas quem está lá para as garotas ainda vivas? Elas ainda estão lá. Ainda sofrendo.”
O alerta internacional
Casos como os de Dubai e Omã mostram que o tráfico internacional de pessoas é um problema crescente, invisibilizado por governos e sustentado pelo silêncio imposto às vítimas.
Enquanto redes criminosas lucram com a exploração, milhares de mulheres seguem desaparecendo todos os anos, sem que suas histórias cheguem à Justiça.