Um estudo revolucionário publicado na revista Nature Medicine acaba de derrubar um dos principais argumentos da indústria alimentícia: que ultraprocessados podem ser saudáveis quando reformulados. A pesquisa mostra que mesmo produtos ultraprocessados com baixo teor de açúcar, sal e gordura ainda causam danos significativos à saúde.
Durante seis meses, cientistas britânicos compararam duas dietas equivalentes em nutrientes — uma com alimentos minimamente processados e outra com ultraprocessados “melhorados”. Os resultados foram claros: a dieta natural superou a ultraprocessada em praticamente todos os aspectos de saúde avaliados.
O que são alimentos ultraprocessados

Ultraprocessados são produtos alimentícios que passaram por múltiplas etapas de processamento industrial, contendo ingredientes que você não encontraria em uma cozinha doméstica. Segundo a classificação NOVA, desenvolvida pela USP, eles incluem:
- Aditivos químicos: conservantes, corantes, aromatizantes artificiais
- Ingredientes industriais: xarope de milho, proteínas modificadas, gorduras hidrogenadas
- Processamento extenso: que altera completamente a estrutura original do alimento
Exemplos comuns incluem refrigerantes, salgadinhos, biscoitos recheados, embutidos, pratos prontos congelados e até alguns produtos aparentemente saudáveis como barras de proteína e cereais matinais.
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O estudo que mudou tudo
O experimento acompanhou 55 pessoas com sobrepeso ou obesidade no Reino Unido. Cada participante seguiu ambas as dietas por dois meses, com um intervalo de um mês entre elas. Importante: ambas as dietas seguiam rigorosamente as diretrizes nutricionais oficiais britânicas.
A dieta ultraprocessada incluía produtos com rótulos “saudáveis” — baixo teor de sal, rico em fibras, sem açúcar adicionado. Foram escolhidos especificamente os ultraprocessados “menos piores” disponíveis no mercado.
Resultados surpreendentes
Os participantes que consumiram alimentos minimamente processados perderam mais que o dobro do peso comparado à dieta ultraprocessada:
- Dieta minimamente processada: perda média de 1,84 kg
- Dieta ultraprocessada: perda média de 880 gramas
Mas a diferença foi além do peso. A dieta natural resultou em:
- Maior perda de gordura corporal e visceral
- Redução de triglicerídeos e pressão arterial
- Melhor controle da compulsão alimentar
- Maior sensação de saciedade
- Menor incidência de efeitos adversos (como constipação, refluxo, fadiga)
Por que Ultraprocessados enganam seu corpo
Mesmo quando nutricionalmente “equilibrados”, os ultraprocessados afetam seu organismo de maneiras que os alimentos naturais não fazem:
Velocidade de consumo
Ultraprocessados são consumidos mais rapidamente, exigem menos mastigação e permitem que você coma mais calorias antes de se sentir satisfeito.
Inflamação silenciosa
O excesso de aditivos químicos e ingredientes artificiais desencadeia processos inflamatórios crônicos no corpo.
Alteração do microbioma
O processamento industrial prejudica as bactérias benéficas do intestino, afetando a digestão e absorção de nutrientes.
Estresse oxidativo
Ingredientes artificiais aceleram o desgaste celular e o envelhecimento precoce.
Ultraprocessados disfarçados de saudáveis
Muitos produtos que consideramos saudáveis são, na verdade, ultraprocessados. Fique atento a:
No café da manhã:
- Cereais matinais “integrais”
- Barras de proteína
- Iogurtes com sabor
- Aveia instantânea
No almoço e jantar:
- Pães industrializados (mesmo os “integrais”)
- Embutidos “light”
- Molhos prontos para salada
- Carnes vegetais processadas
Como alternativas saudáveis:
- Ovos, frutas frescas e aveia em flocos
- Carnes frescas, peixes e frango
- Feijões, lentilhas e grão-de-bico
- Temperos naturais e azeite para saladas
Como identificar ultraprocessados

A regra é simples: leia a lista de ingredientes. Se contém mais de 5 ingredientes ou inclui nomes que você não reconhece, provavelmente é ultraprocessado.
Procure por:
- Conservantes (BHT, BHA, nitrito de sódio)
- Corantes artificiais
- Aromatizantes
- Estabilizantes
- Emulsificantes
O Impacto Além do Peso
Pesquisas recentes mostram que ultraprocessados estão associados a:
- Perda de força muscular, especialmente em pessoas de meia-idade
- Problemas articulares e maior risco de artrite
- Deterioração cognitiva e aumento do risco de depressão
- Maior probabilidade de diabetes tipo 2 e hipertensão
Um estudo mostrou que cada 100g adicionais de ultraprocessados por dia aumenta em 3% o risco de fragilidade física.
Construindo uma alimentação mais saudável
A transição não precisa ser radical. Comece com mudanças pequenas:
Priorize:
- Frutas, verduras e legumes frescos
- Grãos integrais como arroz, quinoa e aveia em flocos
- Proteínas naturais: peixes, ovos, frango, leguminosas
- Gorduras boas: azeite, castanhas, abacate
Reduza gradualmente:
- Refrigerantes e sucos industrializados
- Salgadinhos e biscoitos
- Embutidos e carnes processadas
- Refeições prontas congeladas
Dicas práticas:
- Cozinhe mais em casa
- Prepare lanches com frutas e castanhas
- Leia rótulos antes de comprar
- Substitua um ultraprocessado por vez
Um novo paradigma para a saúde
Este estudo marca um ponto de virada na ciência nutricional. Pela primeira vez, uma pesquisa controlada demonstra que o nível de processamento dos alimentos importa tanto quanto sua composição nutricional.
A mensagem é clara: não existe ultraprocessado verdadeiramente saudável. Mesmo quando reformulados para ter “melhor” perfil nutricional, esses produtos continuam sendo inferiores aos alimentos minimamente processados.
Carlos Monteiro, pesquisador da USP que criou o conceito de ultraprocessados, resumiu a importância do estudo: “É hora dos órgãos reguladores reverem suas posições sobre esses produtos.”
Para uma vida mais saudável, a fórmula continua simples: prefira sempre alimentos que vêm da natureza, não de laboratórios industriais. Seu corpo — e sua saúde a longo prazo — agradecem.
Fonte: As estimativas de todos os municípios estão disponíveis publicamente neste link. O artigo intitulado Estimativa da participação de alimentos ultraprocessados nos municípios brasileiros pode ser acessado clicando aqui.