Criminalidade e Segurança Pública em Minas Gerais: desafios, estratégias e realidades locais

Criminalidade e Segurança Pública em Minas Gerais: desafios, estratégias e realidades locais

A segurança pública é uma das pautas mais urgentes em Minas Gerais. Com um território extenso, mais de 850 municípios e realidades socioeconômicas contrastantes, o estado enfrenta desafios históricos no combate à criminalidade.

Nos últimos anos, mesmo com avanços em tecnologia e integração entre forças policiais, os índices de violência revelam a complexidade dessa equação. Em paralelo, cresce a cobrança da população por políticas públicas eficazes, que combinem repressão ao crime com prevenção social.

O panorama da criminalidade em números

Segundo dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG), Minas Gerais apresentou, em 2023, uma leve redução nos índices de homicídios em comparação com o ano anterior. No entanto, o estado ainda registra uma média de mais de quatro assassinatos por dia.

O roubo e o furto de veículos continuam como grandes preocupações nas regiões metropolitanas, enquanto os crimes contra o patrimônio e tráfico de drogas avançam nas cidades do interior.

Por outro lado, o índice de resolução de homicídios em algumas cidades mineiras é um dos mais altos do Brasil. Isso demonstra o esforço das delegacias especializadas e o uso crescente de tecnologias de investigação, como câmeras de reconhecimento facial e georreferenciamento de ocorrências.

Ainda assim, há uma sensação generalizada de insegurança, especialmente nas áreas urbanas mais densas.

Os mais procurados do estado

panorama da criminalidade em números
Imagem: Divulgação

O portal “Procura-se”, mantido pela Sejusp-MG, lista atualmente dezenas de criminosos considerados de alta periculosidade. Entre os mais procurados estão indivíduos envolvidos com homicídios qualificados, assaltos à mão armada, sequestros e participação em organizações criminosas. A plataforma é aberta ao público e estimula a colaboração da sociedade civil com denúncias anônimas.

Essa medida demonstra como a segurança pública depende também da articulação com a população. Com a popularização das redes sociais, a divulgação desses perfis se tornou mais rápida, aumentando as chances de captura. Em muitos casos, informações vindas de cidadãos foram cruciais para localizar e prender fugitivos.

A violência no campo e nas cidades pequenas

Embora as grandes cidades concentrem a maioria dos casos de violência urbana, o avanço da criminalidade em cidades pequenas e áreas rurais também preocupa. Crimes como furto de gado, roubo de defensivos agrícolas e até assassinatos por disputas de terras têm sido registrados em municípios do Triângulo Mineiro, Sul de Minas e Norte do estado.

Esses crimes, muitas vezes, passam despercebidos nos grandes noticiários, mas impactam profundamente a economia local e a vida das comunidades. A presença de facções criminosas em cidades de médio porte, por exemplo, tem crescido em paralelo ao tráfico de drogas. Com isso, aumenta a pressão sobre as forças policiais locais, que muitas vezes carecem de efetivo e estrutura adequada.

A atuação das forças de segurança

Minas Gerais conta com quatro principais frentes na área de segurança pública: a Polícia Militar, a Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros e o sistema prisional. A integração entre essas forças tem sido uma diretriz recente do governo estadual, por meio de centros de comando integrados, planejamento regionalizado e troca de dados em tempo real.

A Polícia Militar atua no policiamento preventivo e ostensivo, sendo responsável pela maioria dos atendimentos de emergência. Já a Polícia Civil foca na investigação de crimes e cumprimento de mandados judiciais. Ambas têm investido em capacitação, armamentos mais modernos e veículos adaptados à realidade de cada região.

O sistema prisional e os desafios da ressocialização

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Imagem: Divulgação

Minas Gerais possui uma das maiores populações carcerárias do Brasil. Isso gera desafios não apenas logísticos, mas também sociais. Presídios superlotados, estrutura física precária e falta de programas de reintegração social contribuem para a reincidência criminal. Segundo levantamento do Ministério da Justiça, cerca de 42% dos detentos que deixam o sistema prisional mineiro voltam a cometer crimes.

A Secretaria de Administração Prisional e Socioeducativa tem desenvolvido programas como o “Trabalhar Liberta”, que incentiva a capacitação profissional de detentos e parcerias com empresas. Ainda assim, especialistas apontam que o sistema ainda está longe de cumprir seu papel de ressocialização plena, especialmente em presídios de segurança máxima.

A importância da prevenção social

Segurança pública não se resume a repressão. A prevenção social é uma ferramenta poderosa para reduzir a criminalidade de forma estrutural. Programas de educação em tempo integral, esportes, arte e cultura têm mostrado impactos positivos, especialmente entre jovens em situação de vulnerabilidade.

Iniciativas como o Fica Vivo, implantado em comunidades de alta violência, têm conseguido reduzir os índices de homicídio ao combinar ações de mediação de conflitos com oportunidades de desenvolvimento para adolescentes e jovens adultos. No entanto, a expansão desses programas depende de investimentos contínuos e parcerias com prefeituras e organizações da sociedade civil.

O papel das guardas municipais

Diversas cidades mineiras têm apostado na ampliação e fortalecimento de suas guardas municipais como estratégia complementar às forças estaduais. Em municípios como Uberaba, Contagem, Lagoa Santa e Betim, as guardas atuam em rondas escolares, proteção do patrimônio público e apoio a operações conjuntas com a Polícia Militar.

O uso de câmeras corporais, drones e viaturas com monitoramento online também tem se tornado uma realidade, especialmente nas regiões metropolitanas. Ainda assim, há desafios quanto à formação, armamento e integração com os demais órgãos de segurança.

Tecnologias que ajudam a prevenir crimes

Minas Gerais é um dos estados brasileiros que mais investe em tecnologia para segurança pública. A plataforma do CICC (Centro Integrado de Comando e Controle) da Região Metropolitana de Belo Horizonte opera com videomonitoramento inteligente, leitura de placas em tempo real e geolocalização de ocorrências. Isso permite uma resposta mais rápida e assertiva por parte das forças de segurança.

Além disso, o aplicativo MG App Cidadão oferece à população canais para registrar ocorrências, consultar documentos e pedir auxílio em situações de violência doméstica, por exemplo. Com isso, busca-se uma relação mais próxima e eficiente entre o cidadão e o Estado.

A violência doméstica como alerta social

Um dos crimes que mais cresce em Minas Gerais é a violência doméstica. Em 2023, o estado registrou mais de 40 mil casos de agressões contra mulheres, incluindo feminicídios. O aumento nos registros pode estar ligado ao maior acesso a canais de denúncia, como o aplicativo MG Mulher e a central 180.

Porém, o desafio continua sendo a proteção das vítimas após a denúncia. Muitas cidades ainda não contam com casas de acolhimento e equipes especializadas. Em resposta, o governo mineiro tem criado centros de referência e ampliado a Patrulha de Prevenção à Violência Doméstica (PPVD), em parceria com a Polícia Militar.

A sensação de segurança e o papel da mídia

A percepção de segurança é tão importante quanto os números. Mesmo em locais onde os índices de violência caíram, a população continua com medo. Essa sensação é alimentada por diversos fatores, como a exposição midiática de crimes violentos e a falta de presença policial em determinadas regiões.

Por outro lado, a mídia também tem papel crucial na divulgação de informações úteis, campanhas de prevenção e estímulo à denúncia. Iniciativas como o Mapa do Crime e reportagens investigativas ajudam a pressionar o poder público por soluções mais efetivas.

Caminhos para o futuro

Garantir segurança para todos os mineiros exige um conjunto de medidas articuladas. Não basta prender mais: é preciso investir em educação, urbanismo, emprego e saúde mental. A integração entre municípios, estado e União também se faz essencial, especialmente para combater o crime organizado, que já atua em rede.

Os próximos anos serão decisivos para consolidar políticas públicas duradouras e reduzir a violência em Minas Gerais. Para isso, é fundamental ouvir a população, valorizar os profissionais da segurança e colocar a dignidade humana no centro das estratégias.

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